Como escutar o silêncio?
Não há melodia mais sofisticada do que essa fonte. Bebe dela, disse o vento, e o mundo estará salvo. Por mais que eu resista à experiência do silêncio, não tenho palavras agora. E que desafio acordar assim, com uma sensação na garganta e um pedido sincero no coração para que escorrendo dos meus dedos eu desenhe no papel a vida. E genial seria eu acabar aqui mesmo. Por que quem sou eu para tentar dar voz ao insondável?
Mas quando acabei essa frase, imediatamente senti em meu coração o aval para prosseguir e assumir que sou sim tudo isso aqui.
É apenas um espelho, vê? Imagine isso; tudo o que está acontecendo agora é um espelho. Portanto mais uma vez compartilhar é a grande medicina que cura e abate as ilusões. Aqui, descubro-me e aqui, revelo-me e isso também não tem importância alguma, é apenas mais uma passagem que posso dar ou não.
Quem? Se não nós mesmos é que moldamos esse mundo a nossa semelhança. E quem melhor do que nós? Para criar o bem e o mal para uma boa diversão diária. Em nossa escolha pela dualidade nesse mundo, optamos por essa aventura dramática do ego, que nos arremessa em situações que aparentam trazer muita agitação em nossas vidas, mas esse movimento é a linha da lei da compensação, porque quanto mais alto nosso ego voa, maior será o peso e impacto com velocidade em direção a depressão! Quanto mais penetramos em determinadas emoções, causadas pelo medo, a queda é sempre mais brusca. Morremos por diversas vezes porque estamos altamente Identificados com o lixo que sentimos.
Não vemos saídas porque trancamos todas as portas. Ninguém entra ou sai de uma casa fechada. Porém, pesquisar essas emoções de forma consciente deveria ser a nossa meta, porque ainda sentiremos dor, porém já com outras qualidades, pois esse é o passo inicial para nos libertarmos do medo.
Essa é a dor boa que cura.
A dificuldade em trazer a cura é que acreditamos realmente que essa agitação é que nos salvará algum dia. Em algum lugar dentro de nós existe um programa de células infectadas que se reproduzem e são muito bem treinadas para manter a fachada das ilusões e para nossa ironia, estão disfarçadas de curandeiras.
Chega a ser impossível não flagrar quando são essas programações que estão atuando em vez de nós mesmos, pois essas células vão deteriorando o sujeito até a última gota de vida.
A pergunta é sempre a mesma; isso que você está escolhendo agora nesse momento está verdadeiramente te fazendo feliz?
Essa resposta não é para ser dada a alguém, porque é dentro da solidão de cada um que o silêncio expressa o coração, e através da língua do mistério que aprendemos a ser livres e amar independendo do panorama externo.
Toda a pergunta já contém em si a própria resposta. Nunca perguntamos algo que a essência já não saiba.
Então me pergunto às vezes: Porque mesmo continuar perguntando?
Por essa razão às vezes fugimos do silêncio, como quem foge da cruz! Pois ele é o grande revelador dos mundos.
Essa é a grande metáfora que queria chegar, o silêncio ilumina o que não está servindo mais em nossas vidas e todas as formas que nos impedem de ser quem somos e que evitam que os outros sejam quem eles são, se encaminham enfileiradas para a cruz!
Ora, quem de nós, que não está nesse caminho às ondas de dor e de apego causadas por padrões de medo e de culpa? Vendo suas mais queridas sombras secando a luz do sol!
E haja cruz!
Só espero que não ressuscitem! Mas às vezes sim, ressuscitam! E nós mesmos é que chamamos as sombras e depois largamos as carentes em algum canto ainda mais difícil de achar dentro de nós mesmos e ainda ficamos surpresos quando vemos o panorama interno, infernal.
Enfim, sinto que a beleza se encontra dentro de cada escolha, e por mais que isso seja dito, pouco vivemos, pouco de tanto de tudo isso! Continuamos a repetir como num mantra... A beleza se encontra dentro de cada escolha... Portanto nos cansamos com facilidade das palavras ditas sem essência, mesmo que sejam frases que tenham conteúdo, o que importa mesmo é a maneira como sentimos esses conhecimentos, porque ainda não enraizamos em experiências com verdade, então soa falso quando dito em voz alta.
Quando mergulhamos no coração das palavras, aí sim acontece um fenômeno; abandonamos as palavras, só falamos porque ainda não temos a coragem do silêncio total.
Bebe do silêncio, disse a terra, sem premeditar o gosto, o gosto só se sente no agora. E nunca se esgota e nunca é o mesmo. Tudo o que é finito reside apenas na dualidade. Ponto. Não é possível se manter sedento diante da fonte, olha agora, jorrando a Deus dará! Quer abundancia? Prosperidade? Amor? Paz? Aprende a aceitar e recebe esse presente agora. Tudo cabe dentro de um único momento. Estar presente já é o maior presente de todos!
O que pode caber antes do ponto final? A vida.
Tudo o que a fonte oferece permeia cada espaço da vida, farta ela corre nas veias, atravessa canais e se derrama através dos tempos em cada casulo-humano, e aguarda que o ser saia desse casulo e alimentando as próximas gerações, guie o espírito de todos nessa majestosa terra,
Às vezes sem a consciência de que o invisível é que sustenta o mundo visível, ainda nos debatemos em busca de mais chão, base, estabilidade, segurança, como é possível não enxergarmos o que está nos mantendo vivos nesse agora, quer chão? Toma chão! Quer segurança seja confiante de si, quer estabilidade? Estabilize sua direção e nunca deixe de caminhar. Seja o que você quer.
Seja e isso é tudo. O universo nos garante uma boa viagem.
Basta permitir ser. Permitir esse mergulho. E essa é a graça da vida, recebemos o quebra - cabeças e vamos é quebrando as cabeças para tentar, antes mesmo de colocar a primeira peça, adivinhar e calcular e filosofar sobre qual será a imagem que nos forma?
Já sabemos que não é possível sem a própria experiência montar e finalizar esse puzzel. Primeiro recebemos as peças todas misturadas, então organizar cada coisa dentro de sua natureza é básico, observar calmamente a periferia, formamos então a moldura inicial, devagar vamos chegando ao núcleo, mas sempre com muita objetividade, não tem rodeios, ou as peças se encaixam ou não. Não posso enfiar na força o que quero.
Apenas vou seguindo executando a minha tarefa. E a Nossa tarefa é apenas amar e expandir com consciência e afeto. Calma em colocar uma a uma as peças, em seu devido momento, às vezes várias porque ganhamos fôlego, às vezes uma por vezes e em nada diminui nossa maestria de viver e sentir que estamos obedecendo em realidade, a uma lei natural; sermos felizes.
Imagino que colocar a última peça seja uma das sensações mais indescritíveis que já fizemos nesse planeta. O conteúdo da figura que nos forma é apenas um. As formas podem ser infinitas.
Para beber dessa fonte, disse o fogo, não é preciso ter nada, sentir nada, querer nada, nem esperar nada.
Parece loucura se manter sem ter o quê?
Ter medo é um tipo seguro de vício que impede a circulação da vida e do amor. O habito faz aquele que tem medo, disse o mar, propagar e se apegar a mais dúvidas. Mas agora não estamos tão à vontade no escuro total, estamos emergindo e aprendendo a respirar fluidez e nadar longas distancias com sol guiando as frontes.
Pois que assim venham todos os aprendizados!
Mesmo que esse assim não seja da maneira esperada.
Loucura é a coragem de retirar os arreios e ir em direção de mais luz, mesmo quando nos cegaram os olhos.
E num suspiro depois de longas horas eu senti que Falar do silêncio já é uma contradição!
E Porque mesmo que eu disse tudo isso?!
Assim falei
Assim me curo
CORUJA DAS RAÍZES DA MANHÃ
Ahow!